http://www.mysticfair.com.br/bannermystic2011.gif

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Aleister Crowley



 O Homem Mais Perverso do Mundo


Soa, toca o mestre acorde! Puxa, mostra a Espada em Flama! Criança Rei, Vingador do Lorde, Hórus, ouve quem Te chama! Liber Al vel Legis.
Campeão de xadrez, poeta e ótimo cozinheiro, a sombra do reino das sombras, o mestre da magia negra, o homem mais perverso da criação. Foram esses alguns dos adjetivos usados para definir o polêmico mago inglês Aleister Crowley.

Edward Alexander Crowley nasceu no dia 12 de outubro de 1875 na cidade de Leamington, Inglaterra. Seu pai, Edward Crowley, um burguês fabricante de cerveja, era um Irmão Exclusivo da congregação religiosa Plymouth Brethren, cristãos austeros que se excediam na fidelidade à Bíblia. A infância de Crowley foi povoada por rigorosa teologia em detrimento de qualquer tipo de distração. A rotina doméstica incluía a leitura e comentários de alguns versículos da Bíblia pela manhã, o que se repetia durante todas as refeições e se encerrava a noite, com um belo sermão antes de dormir. Aos dez anos de idade, o pequeno Edward Alexander se dizia parte do exército do Cristo. Alguns anos mais tarde trocaria de farda para se tornar um soldado do diabo.
Crowley - que adotou o nome Aleister -  freqüentou o Trinity College, uma famosa universidade de Cambridge. Ali, inspirado pelas obras de Baudelaire e Swinburne, dedicou-se ao estudo da poesia. Longe do pai, o jovem mostrou-se um rebelde excêntrico e de nociva influência para os colegas.
Por volta dos 20 anos Crowley entrou em contato com duas obras ocultistas: a Kabbala Denudata e The Book of Black Magic and the Pacts, de Arthur E. Waites.
Morto o pai de Crowley em1887, o rapaz herdou a aprazível quantia de 40 mil libras, o que lhe possibilitaria levar uma vida confortável e realizar seu grande sonho: viajar pelo mundo. A fortuna que herdou resistiu por pouco mais de dez anos.
No último dia do ano de 1896, Crowley encontrava-se hospedado em um hotel de Estocolmo, quando foi acordado com a “revelação de que possuía poderes mágicos e, portanto, deveria tornar-se um adepto das ciências ocultas incumbido de viajar pelo mundo em busca de sabedoria”.
Crowley partiu em busca dos segredos ocultos da magia. Freqüentou as seitas secretas ocidentais, os iogas da Índia e os mosteiros tibetanos e chineses. Em Paris, Crowley encontrou o livro que passaria a inspirar sua existência mágica: The Book of the Sacred Magic of Abramelin, the Mege - O Livro de Magia Sagrada de Abramelin, o Mago.

Os brutos também amam

Aleister Crowley casou-se na Escócia em 1903 e passou sua lua-de-mel numa viagem: Inglaterra, França, Ceilão e Egito. Até a escritura do Liber Al, sua obra máxima, o mago definiu seu casamento como um “ininterrupto deboche sexual”. Com sua mulher, Rose Edith Kelly, Crowley teve uma filha, Lola Zaza, que morreu de tifo em 1906. Três anos após o casamento Rose bebia uma garrafa de uísque por dia; ao final de sete anos de casada ela  seria internada num asilo.
Além de Rose, Crowley teve mais uma esposa, Maria de Miramar. O casamento durou 2 anos e a mulher, como a primeira, terminou num asilo. Além das esposas, Crowley teve dezenas de amantes e um coleção de prostitutas. A mais forte das amantes de Crowley foi Leah Faesi, uma professora primária que ele conheceu em 1908 e terminou por segui-lo em sua maior loucura: a Abadia de Thelema. Leah teve uma filha de Crowley, Poupée,  que morreu de alcoolismo aos 9 anos.
A todas parceiras Crowley chamava de Mulher Escarlate, uma alusão a consorte bíblica da Grande Besta. Alguns anos de convivência e Leah abdicou do título e voltou para casa. Outras mulheres da vida de Crowley não tiveram a força de Leah: duas enlouqueceram, outras cometeram suicídio ou beberam até a morte após a separação.

As mil faces da besta

Crowley deu a si mesmos inúmeros títulos e diferentes faces, que mudavam a cada seita freqüentada ou a cada viagem empreendida. Talvez o mais bizarro dos nomes usados pelo mago tenha sido A Besta 666, inspirado em besta selvagem, apelido pela qual se referia a ele sua própria mãe, comparando o rapaz à Besta da Bíblia. Durante sua passagem pela Aurora Dourada, o mago ficou conhecido primeiramente como Frater Perdurabo (Eu Perdurarei) e mais tarde como Osíris, com cuja vestimenta cerimonial Crowley formulava um ritual de banimento dos espíritos. Já na OTO Crowley usava o nome Baphomet e a roupagem correspondente. Numa viagem ao oriente, seu título passou a ser Príncipe Chioa Khan; aparece vestido estranhamente, usando turbante e adaga. Num outro momento, posa de Fo-hi, o deus chinês da alegria. Na Escócia era Lord Boleskine e em Londres chamou-se Wladimir Svaref. Na Astrum Argentum o polivalente mago autodenominou-se Mega Therion, e usou a coroa egípcia  da serpente.
Apaixonado por nomes e títulos, Crowley se julgava descendente de uma antiga e nobre família bretã e antepassado do poeta Abraham Crowley além, é claro, de ser a reencarnação do mago francês Eliphas Lévi, morto no ano de seu nascimento, 1875.

O Artista

Crowley dedicava-se à poesia e pintura. Sem modéstia alguma, dizia em suas Confissões autobiográficas que a Inglaterra havia produzido dois gênios: Shakespeare e ele mesmo. Dessa opinião, evidentemente, descordavam categoricamente os críticos.
Talentoso ou não, o mago-artista produziu muito: escreveu poesias sobre sexo, magia e os demônios, além de pornografia pura, como Flocos de Neve do Jardim de um Cura e Manchas Brancas. Aventurou-se também pelo mundo do romance, publicando em 1922 o Diário de um Viciado em Drogas, uma autobiografia disfarçada.
Na pintura, Crowley julgava-se nada menos do que Paul Gauguin, mas seu trabalho foi considerado tecnicamente medíocre. Seus temas prediletos foram ele mesmo e os desenhos demoníacos e pornográficos. Algumas de suas aventuras com pincéis foram intituladas a Grande Besta, um auto-retrato, Guardião das Terras Desoladas e A Ilha dos Magos. Mas o destaque que Crowley obteve na pintura foi do outro lado do pincel: serviu de modelo para a obra O Mago, do artista W. Somerset Maugham.


Crowley e as Ordens Secretas

Dentre as inúmeras seitas secretas e ordens eruditas surgidas durante o espetáculo do Renascimento Ocultista e das quais Crowley fez parte, uma foi especialmente importante pelos nomes que abrigou e pela exótica estrutura do movimento que presidiu: a Ordem Hermética Golden Dawn. Fundada na Inglaterra  pelos Drs. Wynn Westcott, diretor do Instituto Médico Legal de Londres, Robert Woodman e Woodford a Golden Dawn, ou Aurora Dourada, tem uma história bastante interessante. Por volta de 1885, o Dr. Westcott teve contato com uma antiga coleção de  manuscritos encontrados em um biblioteca. Tais manuscritos, datados do início do século XIX, traziam instruções para a fundação de uma sociedade secreta, suas iniciações e rituais. Além disso, ao pé de uma página encontravam-se anotações a lápis que foram atribuídas a Eliphas Lévi (do qual Crowley julgava-se a reencarnação), feitas provavelmente durante uma visita de Lévi a Bulwer Lytton, na Inglaterra.

O Manuscrito Cifrado, como ficou conhecido, mencionava uma adepta Rosa-Cruz chamada Anna Sprengel, com a qual o Dr. Westcott contatou e, com sua permissão, fundou em 1886 a Golden Dawn. Com a morte de fraülein Sprengel, os membros da nova ordem foram instruídos pelos companheiros rosacruzes da adepta - que não compartilharam de suas decisão de autorizar a criação de uma segunda ordem - para que procurassem contato com os Chefes Secretos da ordem por sua própria conta, a fim de receberem instruções mais elevadas. Nesse momento entra em cena o polêmico ocultista Samuel Liddell MacGregor Mathers, assumindo a direção da ordem com seus posteriores sobressaltos e desvios.

Aleister Crowley foi admitdo na Golden Dawn  em novembro de 1898. Rapidamente passou pelos graus da ordem: neófito, zelador, teórico, prático (o grau de Praticus Crowley atingiu três meses após seu ingresso) e filósofo. Ao atingir o grau de filófoso, Crowley desejou conhecer os Chefes Secretos, o que terminou por acontecer em Paris, onde foi apresentado a Mathers, então chefe da sociedade inglesa, e a outros três grandes magos. Crowley tentou ser iniciado por Mathers no grau mais elevado da ordem e apossar-se da loja de Londres, o que provocou a indignação geral dos membros. Não suportando ocupar um posição secundária - a ordem recusou-se a conferir-lhe o grau de Adeptus Minor -  desligou-se e fundou sua própria sociedade.
Da Golden Dawn fizeram parte importantes membros como Bram Stockert, o criador de Drácula, o poeta irlandês W. B. Yeats e os ocultistas Arthur E. Waite, Israel Regardie, Dion Fortune e Rudolf Steiner.  A ordem foi dissolvida em 1901. Seus instrumentos mágicos e rituais colocados dentro de uma caixa e enterrados num local ao sul da Inglaterra.

Ordem dos Templários do Oriente

Em 1911 Crowley recebeu a visita, em Londres, de Theodore Reuss, espião do serviço secreto alemão e  chefe da sociedade maçônica-rosacruz OTO -  Ordo Templis Orientis, fundada na Alemanha em 1902 por Karl Kellner. Ao se despedirem, Crowley era o novo dirigente do ramo britânico da ordem, função que exerceria sob o nome de Baphomet e que, dentro da ordem, significava “supremo e santo rei da Irlanda, Iona e todas as Bretanhas que estão no santuário da gnose”.  A crença  básica da OTO era que o sexo era a chave para a natureza do homem, e que a ritualização do orgasmo seria uma experiência sobrenatural. Crowley, que em sua passagem pela Aurora Dourada havia descoberto suas duas grandes paixões - as drogas e a magia sexual - sentiu-se em casa.

Astrum Argentum

Em torno da saída de Crowley da Golden Dawn existem controvérsias. Alguns afirmam que o próprio Crowley optou por sair, outros insinuam que teria sido expulso, juntamente com Mathers. O que se sabe com certeza é que, tomando emprestados os rituais da Aurora Dourada, Crowley fundou em 1907, 4 anos antes de ingressar na OTO uma dissidência - a Silver  Star (Estrela de Prata), chamada também Astrum Argentinum , AA.
A AA seria, por toda a vida de Crowley, sua derradeira sociedade secreta. Consta numa nota entre parênteses, no Book of Thoth que “a G.D. (Golden Dawn) é simplesmente um nome para a Ordem externa ou Preliminar da R.R. et A .C., que é a sua vez a manifestação externa da AA,  que é a verdadeira Ordem dos Mestres”.

As Ordens Iniciáticas hoje

As ordens as quais pertenceu Crowley existem ainda hoje.
A Astrum Argentum aceita homens e mulheres e possuí dez graus hierárquicos e três estágios intermediários: Probacionista, Neófito, Zelador, Prático, Filósofo, Dominus Liminis, Adepto Menor, Adepto Maior, Adepto Isento, Bebê do Abismo, Mestre do Templo, Magus e Ipsissimus (os títulos encontram-se em ordem hierárquica crescente; os três grifados são os estágios intermediários).

A cerca da sigla AA , seu atuais membros dizem que foi interpretada no passado como Astrum Argentum, Adeptos Atlantes e Alcoólicos Anônimos, e afirmam que ela representa verdadeiramente tudo isso e muito mais; que o verdadeiro significado de seu nome é incompreensível aos profanos.
À Ordem de Thelema só podem pertencer membros da AA que tenha alçando, no mínimo, o grau de Zelador. Detalhes sobre a ordem não são revelados publicamente.

A OTO  é uma ordem maçônica que aceita homens e mulheres e é dividida em onze graus e três círculos: Externo, Interno e Secreto. A atual ordem foi uma das primeiras a adotar a Lei de Thelema promulgada pela AA .
As três Ordens atuam hoje no Brasil, Estados Unidos da América, Inglaterra e Suíça.
Quanto a Golden Dawn, seus manuscritos foram desenterrados 30 anos depois da dissolução. A ordem foi reestruturada  e sua sede encontra-se hoje em Londres.
Mago, louco, alquimista ou gênio, a verdade é que, 53 anos depois do desaparecimento de Aleister Crowley seu trabalho segue atual, fascinante e obrigatório para aqueles que desejam aprofundar-se pelos caminhos do oculto.



A Obra do Mago

O Livro da Lei

“Eu, Aleister Crowley, declaro sobre minha honra como homem de bem, que considero essa revelação um milhão de vezes mais importante que a descoberta da Roda, ou até as Leis da Física e da Matemática. Fogo e ferramentas fizeram do homem mestre deste planeta; a arte de escrever lhe desenvolveu a mente; mas a sua Alma era um palpite  até que o Livro da Lei a aprovou”.
Em abril de 1904, numa visita ao Egito, Crowley ouviu uma voz misteriosa que o conduziu até a estátua do deus Hórus, marcada com o número 666. De acordo com ele, no dia 7 de abril  foi-lhe dada a ordem para que “entrasse no templo ao meio dia dos três dias seguintes e escrevesse o que ouvisse durante uma hora, nem mais nem menos”. Cumprindo a ordem, por três dias consecutivos Crowley ouviu a voz de Aiwass, mensageiro de  Ra-Hoor-Khuit, sacerdote de Hórus, a ditar-lhe um texto que foi publicado sob o título Liber Al vel Legis - O Livro da Lei. O texto é estranho e enigmático (alguns consideram-no impregnado de fascismo). Trata-se de uma seqüência de aforismos escrita bem ao estilo Plymouth Brethren, que prevê a vinda de uma nova era comandada pelo deus Hórus. Tenciona explicar o que é o universo e quais são seus três elementos fundamentais: Nuit, o espaço que dá lugar as manifestações,  Hadit, qualquer ponto de experiência que entre em contato com essa manifestações e Hórus, o senhor da Nova Era. O livro dita também um código de conduta que pode ser assim traduzido: “A Lei é feita da tua vontade. A Lei é o amor, amor sob a vontade. Não há mais Lei: faz tua vontade”.
Os  adeptos de Crowley tinham o texto como um documento secreto que circulava apenas entre eles, pois o livro não foi citado até 1927 e foi publicado pela primeira vez em 1938. Seus detratores tomaram a obra como uma cópia dos hinos religiosos egípcios publicados anteriormente numa compilação chamada Os Hinos do Nilo.
Apesar de não ter nenhuma ligação com o nazismo, os adeptos de Crowley indicavam o Liber Al como base ideológica para Hitler que, de acordo com alguns historiadores, citou o nome de Crowley em público pelo menos duas vezes.
Crowley, em função do livro e de seus dons mágicos, se sentia o messias da Nova Era e acreditava ser o Liber Al um texto fundamental do espiritualismo do século XX.

O Livro das Mentiras

O subtítulo do livro “ as divagações ou falsificações de um pensamento de Frater Perdurabo” fazem com que a obra se pareça com mais uma das brincadeiras macabras de Crowley. Na verdade, o título tenciona expressar a idéia de que toda a verdade é relativa ou falsa se vista sob um angulo diferente. São 119 pequenos capítulos e seus comentários, que levam estranhos títulos como o Sabath da Cabra e O Ornitorrinco.

O 777

Uma das mais importantes obras de Crowley, o 777 é um grande dicionário de magia cerimonial, misticismo e simbologia, que compara diversas tendências religiosas, esotéricas e filosóficas. Nele, Crowley estuda os símbolos fálicos da Kabala e apresenta tábuas de correspondência entre esse sistema e elementos de magia cerimonial, bem como as correspondências místicas entre as religiões.

O Livro de Toth

Quando, na Golden Dawn, Crowley atingiu o grau de Praticus, foram-lhe confiados os segredos do Tarô e suas atribuições. Seguindo as instruções dos Manuscritos Cifrados da ordem hermética, escreveu um amplo ensaio sobre o tema, relacionando os arcanos do Tarô aos caminhos e sephirot kabalísticos, à astrologia, aos números e aos elementos. A um conjunto de seus escritos, Crowley chamou  The Equinox. O volume III n.º V é The Book of Thoth, o Livro de Toth , recentemente editado em português.

O Tarô

A fascinante obra sobre o Tarô e as ciências ocultas, assinada por Mestre Therion, um de seus tantos nomes, tem como ilustração um baralho de Tarô composto de 78 cartas que são, originalmente, 78 quadros. Os quadros foram pintados a óleo pela artista e egiptóloga Frieda Harris sob orientação de Crowley. O trabalho teve inicio em 1938 e foi finalizado em 1944 e seu resultado foi completamente diferente da proposta original. Crowley tencionava pintar um baralho tradicional, seguindo os modelos medievais. Lady Frieda não se sentiu inspirada para realizar tal trabalho e convenceu Crowley a realizar algo que se aventurasse a ser mais profundo e sublime. O resultado foi sem dúvida surpreendente. A dedicação e genialidade de Frieda Harris, que trabalhava baseada em grosseiros croquis ou descrições de Crowley, fez com que a artista repetisse inúmeras vezes uma mesma pintura até julgá-la perfeita. Frieda inseriu ao todo 1200 símbolos nos 78 quadros. O Tarô de Aleister Crowley é uma das mais belas obras ocultistas que o mundo conheceu, não importa o que se pense sobre seu autor. Infelizmente, nem Crowley nem Frieda, que morreu em 1962, viveram para ver seu trabalho publicado. Em 1966, Grady McMurtry, que ajudará Crowley a publicar The Book of Thoth em 1944, fotografou as pinturas e publicou na forma de baralho. McMurtry é o atual chefe da loja americana da OTO.
Dos livros escritos por Crowley, 34 podem ser considerados best-sellers do ocultismo. Entre eles figuram O Mundo Desperto, Liber XXX, Ambrosii Magi Hortus Rosarum, Gematria, Goecia e  Magia em Teoria e Prática.
O alemão Hans-Dieter Leuenberger em sua obra Das Ist Esoterik faz uma interessante advertência àqueles que desejam seguir os ensinamentos de Crowley. Diz ele: “quem quer viver segundo os textos mágicos de Crowley e praticar seus rituais pode ter surpresas nada agradáveis, que nem sempre são de natureza espetacular, como de loucura, suicídio ou combustão espontânea, mas que podem ter conseqüências profundas no inconsciente. A escola esotérica que se orienta por Crowley, assemelha-se a uma criança que brinca com uma bomba não deflagrada”. Evidentemente, questão de opinião!


A Abadia de Thelema

Se desejas entregar-te a magia deves começar por construir um oratório segundo certas formas exatas. A porta deve abrir para o norte, no alto de um terraço coberto de areia fina de rio. Na extremidade do terraço deve haver uma pequena loggia, onde os espíritos demoníacos poderão se reunir. Abramelin
No outono de 1989, Crowley teve contato com o Livro da Magia Sagrada de Abramelin. Além de instruções específicas sobre a localização e formas do oratório ideal, o livro instruía  sobre o procedimento a ser adotado para invocar os espíritos. O aspirante deveria isolar-se do mundo por um período de dois meses e, ao final, invocar um ser descrito como Sagrado Anjo Guardião. Após a comunhão com o Anjo, o aspirante deveria invocar os Quatro Grandes Príncipes do Mundo Demoníaco e os forçarem a jurar obediência. No dia seguinte deveria invocar e subjugar outros príncipes e espíritos. Tais daemons operariam então um coleção de talismãs  para diversos propósitos.
Crowley interessou-se imediatamente pela operação mágica e estabeleceu uma data para executá-la - a Páscoa de 1900. Mas teve que adiar seus propósitos pois, nesse período, alguma coisa ia mal na Ordem da Aurora Dourada. Seu Mestre, na época Mathers, teria apelado para que o mago o auxiliasse em Paris,  no salvamento da Ordem. Crowley teria atendido ao pedido e depois dirigido-se ao México, onde permaneceu em vigília no Templo da Ordem da Lâmpada da Luz Invisível. De acordo o atual Magister Templi da AA no Brasil,  nesse local Crowley recebeu a visão do Anjo Guardião e dos Príncipes e, ao retornar a sua casa na Escócia - a Boleskine House, no Loch Ness - percebeu presenças das forças envolvidas na operação. Crowley teria completado “a obra no templo de seu próprio corpo”.
A criação do oratório aconteceu anos mais tarde na Itália quando, ao consultar o IChing, ele foi informado pelo oráculo chinês que havia chegado a hora.

Em abril de 1920 chega a Cefalu, na Sicília, um grupo disposto a se estabelecer sob o morro de Santa Bárbara: Aleister Crowley, suas duas amantes, Leah Faesi e Ninette Fraux e duas crianças, uma delas Poupée, filha de Crowley e Leah. A missão do grupo: fundar ali um templo gerador de energia oculta que mais tarde, de acordo com eles, deveria suplantar o cristianismo. Posteriormente, outros discípulos de Crowley desembarcaram em Cefalu: a terceira amante, Elizabeth Fox e uma atriz americana, Jane Wolfe, pela qual Crowley sentia uma selvagem atração não correspondida.
Fundaram ali a Abadia de Thelema, santuário da AA imaginada pelo demônio Babelais e inspirada por Abramelin. Aparentemente, a rotina da abadia era quase monástica, com seus cantos e rituais. Mas as aparências enganam. A  regra fundamental da abadia, inscrita em letras invisíveis era “faze o que desejas: esse é o princípio fundamental da Lei”. Mas essa liberdade era dada apenas àqueles que haviam atingido a suprema sabedoria e, para atingi-la, era preciso submeter-se à vontade do mestre.

Muitos, como Norman Mudd que se demitiu de uma universidade na África do Sul,  trabalharam na construção da grande obra mágica. A casa era - e é ainda - uma modesta construção térrea com cinco quartos dando para a sala principal. As paredes da sala principal, o Sanctus Sanctorum, foram pintadas de vermelho. Nelas Crowley desenhou um círculo mágico com um pentagrama e todas as possíveis formas do ato sexual. Nessa sala existiam dois tronos: um maior, ao leste, para o Sábio e o segundo, a oeste,  para sua consorte, a Mulher Escarlate. Nesse sala os discípulos foram iniciados nos mais diversos mistérios. Num deles, a Mulher Escarlate participava do acasalamento com um bode, que tinha sua cabeça decepada no momento do orgasmo, banhando com sangue o corpo da mulher. Os acólitos, por sua vez, oravam cinco vezes ao dia (bem ao estilo Plymouth Brethren), sacrificavam animais, invocavam demônios e participavam de ritos sexuais.

Todos os homens da abadia deveriam ter suas cabeças raspadas e as mulheres os cabelos pintados de vermelho ou amarelo. Deveriam as mulheres usar uma túnica azul e escrever um diário onde anotavam seus pensamentos e desejos íntimos. Evidentemente Crowley tinha livre acesso às anotações.
Quando alguma de suas amantes era julgada por desobediência, Crowley a expunha nua, com os braços em cruz, sobre os rochedos que davam para o mar. Permanecia ali imóvel e mudal, marcadal a ferro no centro do peito, abençoando interiormente seu senhor, até que o castigo fosse suspenso. Uma foto de irmã Cibele (Leila Wadeel), uma das amantes de Crowley e um dos primeiros membros da AA, mostra a marca da besta entre os seios. Tal foto está publicada na obra  Seitas Secretas.
Aos visitantes Crowley oferecia uma navalha, para que cortassem os braços todas as vezes que empregassem a palavra eu. Somente o mestre tinha direito de empregá-la.

Em 1922 Crowley recebeu mais dois visitantes: Raoul Loveday, que  tornou-se discípulo devotado do mago e sua esposa, Betty May, uma mulher culta que ficou impressionada com o que viu. Loveday tinha saúde frágil - teve desenteria e hepatite,  e morreu de colapso logo após uma cerimônia em que se sacrificava um gato e se bebia o sangue dele. Seguiu-se então um enorme escândalo, onde cogitava-se a possibilidade de outros sacrifícios, como o de bebês.
No final do ano de 1922, Crowley e seus seguidores foram expulsos da Sicília por Mussoline, como mais tarde também seriam expulso da França.
Em 1947, com problemas no coração e pulmões, viciado em heroina e abandonado, o grande mago negro, príncipe da alquimia, o homem mais perverso da criação estava reduzido a miséria. Sua morte, nada gloriosa comparada à sua vida, deu-se numa pensão ao Sul da Inglaterra.
Para fazer justiça a sua vida e seu caráter, em sua lápide deveria constar, como inscrição, um Hino a Pã: Eu me enfureço e desonro / Rasgo e vocifero / Causo eterna devastação pelo mundo / Sob o domínio de Pã.

Mara Barrionuevo para o Jornal O Exotérico – edição de agosto de 2000

Bibiografia:
Seitas Secretas - Mistérios do Desconhecido
outras bibliografias citadas no texto

Imagens da web

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Carga da Deusa

Ouçam vós as palavras da Grande Mãe, que desde os dias antigos foi chamada entre os homens de Ártemis, Astarte, Dione, Melusine, Aphrodite, Cerridwen, Diana, Arianrhod, Bride e por muitos outros nomes.

"Sempre que vós tiverdes quaisquer necessidades, uma vez ao mês, e melhor seria quando a lua estiver cheia, então vós deveis vos reunir em algum local secreto e adorar o meu espírito, eu que sou a Rainha de todas as bruxarias. Lá vós deveis vos reunir, vós que estais ardorosos para aprender toda a feitiçaria, mas que ainda não aprendeis os seus segredos mais profundos; a estes eu vou ensinar aquilo que ainda é desconhecido. E vós deveis ser livres de toda servidão; e como sinal de que vós sois realmente livres, vós deveis apresentar-vos nus em seus ritos; e vós deveis dançar, cantar, comer, tocar música e fazer amor, tudo em meu louvor.

"Pois meu é o êxtase do espírito,  e minha é a alegria do mundo; pois a minha lei é o amor para todos os seres. Mantenhais puro vosso mais elevado ideal; empenhai-vos sempre na sua direção; não deixais nada parar-vos ou desviar-vos. Pois minha é a porta secreta que se abre sobre a Terra da Juventude e minha é a taça do vinho da vida e o Caldeirão de Cerridwen, que é o Graal Sagrado da imortalidade. Eu sou a Deusa Graciosa, que dá o presente da alegria para o coração do homem. Sobre a terra eu dou o conhecimento do espírito eterno; e além da morte, eu dou paz e liberdade e vos reuno com aqueles que partiram antes de vós. Eu não peço nada em sacrifício; pois eu sou a Mãe de tudo o que vive e meu amor recai por sobre a terra."
Ouçam vós as palavras da Deusa Estelar. Ela em cuja poeira dos pés estão as hostes do céu e cujo corpo circunda o Universo.

"Eu, que sou a beleza dos campos verdes, a Lua alva entre as estrelas, o mistério das águas e o desejo do coração do homem, chamo pelas vossas almas. Levantem-se e venham à mim. Pois eu sou o alma da natureza, que dá vida ao universo. De mim tudo vêm e a mim tudo deve retornar; e ante a minha face, amada pelos Deuses e pelos homens, deixe teu ser divino mais profundo se envolver pelo êxtase do infinito."

"Deixem meu culto acontecer na terra que se regozija; pois todos os atos de amor e prazer são meus rituais. E, portanto,  deixem que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade, júbilo e reverência dentro de vós.
E aqueles que pensam em me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o início,  e eu sou aquela que é alcançada ao final do desejo."


Por Doreen Valiente, 1957