http://www.mysticfair.com.br/bannermystic2011.gif

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Contos de Fadas - A versão da Bruxa


Contos de Fadas. Nossa infância foi povoada por eles.
Nunca ouvi falar nos Contos de Bruxas e, nos Contos de Fadas, nem as fadas são protagonistas. A protagonista é a princesa, a bela moça bondosa de longos cachos louros e/ou pele branca como a neve. Sempre a princesa. Menina educada, gentil, discreta, doce e ingênua.
A princesa. Aquela que, em todo o Conto que deveria ser de Fadas, tem o destino traçado: vai ser engada, usurpada ou enfeitiçada pela Bruxa (essa sim, sempre malvada) e salva pelo heroico príncipe encantado. E vão viver em seu lindo castelo nas nuvens, e vão ser felizes para sempre.
São tão contraditórios esses Contos de Fadas. Sempre me pergunto o que seria da princesa se a Bruxa não existisse. Da princesa e de todos os outros personagens dos contos.
Branca de Neve passaria a vida na frente do espelho. Jamais seria largada na floresta para viver a maior aventura de sua vidinha enfadonha. Não teria motivo para crescer, para aprender a lutar pela sobrevivência, para aventurar-se pelo desconhecido. Jamais teria conhecido os Sete Anões que, aliás, nem entrariam na estória. E jamais teria provado da maça, a mesma que expulsou Adão e Eva do Paraíso. A maça, fruto da Árvore do Conhecimento, oferecida aos primeiros humanos pela Sabedoria da Serpente e à princesinha pela Sabedoria da Feiticeira.
E o príncipe encantado? Apareceria na estória para que se, antes de desposar a donzela não fosse obrigado a levantar o traseiro de seu trono e, com o lindo cavalo branco que só fazia pastar e engordar, se aventurar pelo mundo em busca de sua futura rainha?
Cinderela seria para sempre a filha mimada do rico comerciante, alegre e saltitante a cantarolar, até que papai viúvo se casa com a Bruxa má. “Ela das cinzas” não lascaria a unha pintada de rosa lavando pratos, mas também não viveria a magia de ver sua Fada-Madrinha transformar a abóbora (de Halloween?) na carruagem de sonhos, tampouco seria presenteada com sapatinhos de fazer inveja às criações de Christian Louboutin. E será que estaria naquele baile, onde um príncipe entediado escolheria pela beleza a futura princesa?
E, de novo, o príncipe? Teria ele saído em busca de sua amada (e, de quebra, conheceria um pouco de seu Reino), ou casaria com a princesinha adequada, escolhida por papai-Rei (que provavelmente não aguentava mais o filhinho narcisista fazendo nada da vida no castelo)?
Ah, Bela bela Adormecida. Não bastou nascer princesa, ainda ganhou 12 fadas madrinhas e de cada uma um dom – talento, beleza, inteligência, enfim, de bandeja o que toda mulher deseja.
Mas sendo o número certo o 13, a fada má, Fiandeira, lançou o feitiço da agulha e pôs a dormir a corte inteira. Não fosse assim, Bela teria vivido feliz com os dons que nada fez por merecer (esforço nenhum para crescer) rodeada das boas fadas, e? e sabe-se lá se um príncipe heroico, saído sabe-se lá de onde, enfrentaria maldições e espinhos para despertar a dorminhoca de seu sono de beleza. A ela e a toda a realeza.
Tenho algumas impressões bem pessoais a cerca do destino desses príncipes e princesas.
Sem a sábia intervenção da Bruxa, as princesas viveriam todas felizes, encasteladas em seus mundos sem aventura, sem crescimento, sem emoções, sem descobertas, sem desafios.
E enquanto se olham em espelhos sem magia, dançam sós pelos salões, cantarolam para amiguinhos imaginários e cuidam das unhas, envelhecem. Engordam. Atrofiam. E envelhecem mais. E morrem. Morrem sem nunca ter vivido de verdade.
E os príncipes? Entram na estória apenas para salvar a princesa e garantir o ‘viveram felizes para sempre’. Mas só entram na estória depois da intervenção da Bruxa. Antes da Bruxa, esses ilustres desconhecidos (algum deles tem um nome?) ... ah, Príncipe Encantado! ... antes da intervenção da bruxa, Sua Majestade, o Príncipe Encantado, andava onde fazendo o que mesmo? Dizem que sentado no trono de papai, controle remoto na mão, assistindo a algum besteirol na Sky. E seu lindo cavalo branco? Parado, quase atrofiado, engordando.
Príncipe e cavalo, dia após dia, sem perspectiva de uma boa aventura.
Ambos envelhecendo sem magia. Morrendo sem heroísmo algum.
Suas estórias, lindas princesas e heroicos príncipes, jamais seriam contadas, simplesmente porque, sem a Bruxa, não haveria o que contar. Mas, graças à existência da tal malvada, “era uma vez, num reino distante...”
É ... Contos de Fadas. Nossa infância foi povoada por eles.
Às meninas, a literatura infantil(izadora) deu um ‘boa noite, Cinderela!’
É chegada a hora do ‘acorda, Bela Adormecida’. É chegada a hora de contar ao mundo a versão da Bruxa.
(Mara Barrionuevo)