O Homem Mais Perverso do Mundo
Soa, toca o
mestre acorde! Puxa, mostra a Espada em Flama! Criança Rei, Vingador do Lorde,
Hórus, ouve quem Te chama! Liber Al vel Legis.
Campeão de xadrez, poeta e ótimo cozinheiro, a
sombra do reino das sombras, o mestre da magia negra, o homem mais perverso da
criação. Foram esses alguns dos adjetivos usados para definir o polêmico mago
inglês Aleister Crowley.
Edward Alexander Crowley nasceu no dia 12 de outubro
de 1875 na cidade de Leamington, Inglaterra. Seu pai, Edward Crowley, um
burguês fabricante de cerveja, era um Irmão Exclusivo da congregação religiosa Plymouth Brethren, cristãos austeros que
se excediam na fidelidade à Bíblia. A infância de Crowley foi povoada por
rigorosa teologia em detrimento de qualquer tipo de distração. A rotina
doméstica incluía a leitura e comentários de alguns versículos da Bíblia pela
manhã, o que se repetia durante todas as refeições e se encerrava a noite, com
um belo sermão antes de dormir. Aos dez anos de idade, o pequeno Edward Alexander
se dizia parte do exército do Cristo. Alguns anos mais tarde trocaria de farda
para se tornar um soldado do diabo.
Crowley - que adotou o nome Aleister - freqüentou o Trinity College, uma famosa
universidade de Cambridge. Ali, inspirado pelas obras de Baudelaire e
Swinburne, dedicou-se ao estudo da poesia. Longe do pai, o jovem mostrou-se um
rebelde excêntrico e de nociva influência para os colegas.
Por volta dos 20 anos Crowley entrou em contato com
duas obras ocultistas: a Kabbala Denudata
e The Book of Black Magic and the Pacts, de Arthur E. Waites.
Morto o pai de Crowley em1887, o rapaz herdou a
aprazível quantia de 40 mil libras, o que lhe possibilitaria levar uma vida
confortável e realizar seu grande sonho: viajar pelo mundo. A fortuna que herdou
resistiu por pouco mais de dez anos.
No último dia do ano de 1896, Crowley encontrava-se
hospedado em um hotel de Estocolmo, quando foi acordado com a “revelação de que
possuía poderes mágicos e, portanto, deveria tornar-se um adepto das ciências
ocultas incumbido de viajar pelo mundo em busca de sabedoria”.
Crowley partiu em busca dos segredos ocultos da
magia. Freqüentou as seitas secretas ocidentais, os iogas da Índia e os mosteiros tibetanos e chineses. Em Paris,
Crowley encontrou o livro que passaria a inspirar sua existência mágica: The Book of the Sacred Magic of Abramelin, the Mege - O Livro de Magia Sagrada de
Abramelin, o Mago.
Os brutos
também amam
Aleister Crowley casou-se na Escócia em 1903 e
passou sua lua-de-mel numa viagem: Inglaterra, França, Ceilão e Egito. Até a
escritura do Liber Al, sua obra máxima, o mago definiu seu
casamento como um “ininterrupto deboche sexual”. Com sua mulher, Rose Edith
Kelly, Crowley teve uma filha, Lola Zaza, que morreu de tifo em 1906. Três anos
após o casamento Rose bebia uma garrafa de uísque por dia; ao final de sete
anos de casada ela seria internada num
asilo.
Além de Rose, Crowley teve mais uma esposa, Maria de
Miramar. O casamento durou 2 anos e a mulher, como a primeira, terminou num
asilo. Além das esposas, Crowley teve dezenas de amantes e um coleção de
prostitutas. A mais forte das amantes de Crowley foi Leah Faesi, uma professora
primária que ele conheceu em 1908 e terminou por segui-lo em sua maior loucura:
a Abadia de Thelema. Leah teve uma filha de Crowley, Poupée, que morreu de alcoolismo aos 9 anos.
A todas parceiras Crowley chamava de Mulher Escarlate, uma alusão a consorte
bíblica da Grande Besta. Alguns anos de convivência e Leah abdicou do título e
voltou para casa. Outras mulheres da vida de Crowley não tiveram a força de
Leah: duas enlouqueceram, outras cometeram suicídio ou beberam até a morte após
a separação.
As mil faces
da besta
Crowley deu a si mesmos inúmeros títulos e
diferentes faces, que mudavam a cada seita freqüentada ou a cada viagem
empreendida. Talvez o mais bizarro dos nomes usados pelo mago tenha sido A Besta 666, inspirado em besta selvagem, apelido pela qual se
referia a ele sua própria mãe, comparando o rapaz à Besta da Bíblia. Durante
sua passagem pela Aurora Dourada, o mago ficou conhecido primeiramente como Frater Perdurabo (Eu Perdurarei) e mais
tarde como Osíris, com cuja
vestimenta cerimonial Crowley formulava um ritual de banimento dos espíritos.
Já na OTO Crowley usava o nome Baphomet e
a roupagem correspondente. Numa
viagem ao oriente, seu título passou a ser Príncipe
Chioa Khan; aparece vestido estranhamente, usando turbante e adaga. Num
outro momento, posa de Fo-hi, o deus
chinês da alegria. Na Escócia era Lord
Boleskine e em Londres chamou-se Wladimir
Svaref. Na Astrum Argentum o
polivalente mago autodenominou-se Mega
Therion, e usou a coroa egípcia da
serpente.
Apaixonado por nomes e títulos, Crowley se julgava
descendente de uma antiga e nobre família bretã e antepassado do poeta Abraham
Crowley além, é claro, de ser a reencarnação do mago francês Eliphas Lévi,
morto no ano de seu nascimento, 1875.
O Artista
Crowley dedicava-se à poesia e pintura. Sem modéstia
alguma, dizia em suas Confissões
autobiográficas que a Inglaterra havia produzido dois gênios: Shakespeare e ele
mesmo. Dessa opinião, evidentemente, descordavam categoricamente os críticos.
Talentoso ou não, o mago-artista produziu muito:
escreveu poesias sobre sexo, magia e os demônios, além de pornografia pura,
como Flocos de Neve do Jardim de um Cura e Manchas
Brancas. Aventurou-se também pelo mundo do romance, publicando em 1922 o Diário de um Viciado em Drogas, uma
autobiografia disfarçada.
Na pintura, Crowley julgava-se nada menos do que
Paul Gauguin, mas seu trabalho foi considerado tecnicamente medíocre. Seus
temas prediletos foram ele mesmo e os desenhos demoníacos e pornográficos.
Algumas de suas aventuras com pincéis foram intituladas a Grande Besta, um auto-retrato, Guardião
das Terras Desoladas e A Ilha dos Magos. Mas o destaque que Crowley obteve
na pintura foi do outro lado do pincel: serviu de modelo para a obra O Mago, do artista W. Somerset Maugham.
Crowley e as
Ordens Secretas
Dentre as inúmeras seitas secretas e ordens eruditas
surgidas durante o espetáculo do Renascimento Ocultista e das quais Crowley fez
parte, uma foi especialmente importante pelos nomes que abrigou e pela exótica
estrutura do movimento que presidiu: a Ordem
Hermética Golden Dawn. Fundada na Inglaterra pelos Drs. Wynn Westcott, diretor do
Instituto Médico Legal de Londres, Robert Woodman e Woodford a Golden Dawn, ou
Aurora Dourada, tem uma história bastante interessante. Por volta de 1885, o
Dr. Westcott teve contato com uma antiga coleção de manuscritos encontrados em um biblioteca.
Tais manuscritos, datados do início do século XIX, traziam instruções para a
fundação de uma sociedade secreta, suas iniciações e rituais. Além disso, ao pé
de uma página encontravam-se anotações a lápis que foram atribuídas a Eliphas
Lévi (do qual Crowley julgava-se a reencarnação), feitas provavelmente durante
uma visita de Lévi a Bulwer Lytton, na Inglaterra.
O Manuscrito Cifrado, como ficou conhecido,
mencionava uma adepta Rosa-Cruz chamada Anna Sprengel, com a qual o Dr.
Westcott contatou e, com sua permissão, fundou em 1886 a Golden Dawn. Com a
morte de fraülein Sprengel, os
membros da nova ordem foram instruídos pelos companheiros rosacruzes da adepta
- que não compartilharam de suas decisão de autorizar a criação de uma segunda
ordem - para que procurassem contato com os Chefes Secretos da ordem por sua
própria conta, a fim de receberem instruções mais elevadas. Nesse momento entra
em cena o polêmico ocultista Samuel Liddell MacGregor Mathers, assumindo a
direção da ordem com seus posteriores sobressaltos e desvios.
Aleister Crowley foi admitdo na Golden Dawn em novembro de 1898. Rapidamente passou pelos
graus da ordem: neófito, zelador,
teórico, prático (o grau de Praticus
Crowley atingiu três meses após seu ingresso) e filósofo. Ao atingir o grau de filófoso, Crowley desejou conhecer os
Chefes Secretos, o que terminou por acontecer em Paris, onde foi apresentado a
Mathers, então chefe da sociedade inglesa, e a outros três grandes magos.
Crowley tentou ser iniciado por Mathers no grau mais elevado da ordem e
apossar-se da loja de Londres, o que provocou a indignação geral dos membros.
Não suportando ocupar um posição secundária - a ordem recusou-se a conferir-lhe
o grau de Adeptus Minor - desligou-se e fundou sua própria sociedade.
Da Golden Dawn fizeram parte importantes membros
como Bram Stockert, o criador de Drácula,
o poeta irlandês W. B. Yeats e os ocultistas Arthur E. Waite, Israel Regardie,
Dion Fortune e Rudolf Steiner. A ordem
foi dissolvida em 1901. Seus instrumentos mágicos e rituais colocados dentro de
uma caixa e enterrados num local ao sul da Inglaterra.
Ordem dos
Templários do Oriente
Em 1911 Crowley recebeu a visita, em Londres, de
Theodore Reuss, espião do serviço secreto alemão e chefe da sociedade maçônica-rosacruz OTO -
Ordo Templis Orientis, fundada
na Alemanha em 1902 por Karl Kellner. Ao se despedirem, Crowley era o novo
dirigente do ramo britânico da ordem, função que exerceria sob o nome de Baphomet e que, dentro da ordem,
significava “supremo e santo rei da Irlanda, Iona e todas as Bretanhas que
estão no santuário da gnose”. A
crença básica da OTO era que o sexo era
a chave para a natureza do homem, e que a ritualização do orgasmo seria uma
experiência sobrenatural. Crowley, que em sua passagem pela Aurora Dourada
havia descoberto suas duas grandes paixões - as drogas e a magia sexual -
sentiu-se em casa.
Astrum
Argentum
Em torno da saída de Crowley da Golden Dawn existem
controvérsias. Alguns afirmam que o próprio Crowley optou por sair, outros
insinuam que teria sido expulso, juntamente com Mathers. O que se sabe com
certeza é que, tomando emprestados os rituais da Aurora Dourada, Crowley fundou
em 1907, 4 anos antes de ingressar na OTO uma dissidência - a Silver
Star (Estrela de Prata), chamada também Astrum Argentinum , AA.
A AA
seria, por toda a vida de Crowley, sua derradeira sociedade secreta. Consta
numa nota entre parênteses, no Book of Thoth que “a G.D. (Golden Dawn) é
simplesmente um nome para a Ordem externa ou Preliminar da R.R. et A .C., que é
a sua vez a manifestação externa da AA, que é a verdadeira Ordem dos Mestres”.
As Ordens
Iniciáticas hoje
As ordens as quais pertenceu Crowley existem ainda
hoje.
A Astrum
Argentum aceita homens e mulheres e possuí dez graus hierárquicos e três
estágios intermediários: Probacionista,
Neófito, Zelador, Prático, Filósofo, Dominus
Liminis, Adepto Menor, Adepto Maior,
Adepto Isento, Bebê do Abismo, Mestre
do Templo, Magus e Ipsissimus (os títulos encontram-se em ordem hierárquica
crescente; os três grifados são os estágios intermediários).
A cerca da sigla AA
, seu atuais membros dizem que foi interpretada no passado como Astrum
Argentum, Adeptos Atlantes e Alcoólicos Anônimos, e afirmam que ela
representa verdadeiramente tudo isso e muito mais; que o verdadeiro significado
de seu nome é incompreensível aos profanos.
À Ordem de
Thelema só podem pertencer membros da AA
que tenha alçando, no mínimo, o grau de Zelador. Detalhes sobre a ordem não são
revelados publicamente.
A OTO é uma ordem maçônica que aceita homens e
mulheres e é dividida em onze graus e três círculos: Externo, Interno e
Secreto. A atual ordem foi uma das primeiras a adotar a Lei de Thelema
promulgada pela AA .
As três Ordens atuam hoje no Brasil, Estados Unidos
da América, Inglaterra e Suíça.
Quanto a Golden
Dawn, seus manuscritos foram desenterrados 30 anos depois da dissolução. A
ordem foi reestruturada e sua sede
encontra-se hoje em Londres.
Mago, louco, alquimista ou gênio, a verdade é que,
53 anos depois do desaparecimento de Aleister Crowley seu trabalho segue atual,
fascinante e obrigatório para aqueles que desejam aprofundar-se pelos caminhos
do oculto.
A Obra do Mago
O Livro da Lei
“Eu, Aleister Crowley, declaro sobre minha honra
como homem de bem, que considero essa revelação um milhão de vezes mais
importante que a descoberta da Roda, ou até as Leis da Física e da Matemática.
Fogo e ferramentas fizeram do homem mestre deste planeta; a arte de escrever
lhe desenvolveu a mente; mas a sua Alma era um palpite até que o Livro da Lei a aprovou”.
Em abril de 1904, numa visita ao Egito, Crowley
ouviu uma voz misteriosa que o conduziu até a estátua do deus Hórus, marcada
com o número 666. De acordo com ele, no dia 7 de abril foi-lhe dada a ordem para que “entrasse no
templo ao meio dia dos três dias seguintes e escrevesse o que ouvisse durante
uma hora, nem mais nem menos”. Cumprindo a ordem, por três dias consecutivos
Crowley ouviu a voz de Aiwass,
mensageiro de Ra-Hoor-Khuit, sacerdote de Hórus, a ditar-lhe um texto que foi
publicado sob o título Liber Al vel Legis
- O Livro da Lei. O texto é estranho e enigmático (alguns consideram-no
impregnado de fascismo). Trata-se de uma seqüência de aforismos escrita bem ao
estilo Plymouth Brethren, que prevê a
vinda de uma nova era comandada pelo deus Hórus. Tenciona explicar o que é o
universo e quais são seus três elementos fundamentais: Nuit, o espaço que dá lugar as manifestações, Hadit,
qualquer ponto de experiência que entre em contato com essa manifestações e Hórus, o senhor da Nova Era. O livro
dita também um código de conduta que pode ser assim traduzido: “A Lei é feita
da tua vontade. A Lei é o amor, amor sob a vontade. Não há mais Lei: faz tua
vontade”.
Os adeptos de
Crowley tinham o texto como um documento secreto que circulava apenas entre
eles, pois o livro não foi citado até 1927 e foi publicado pela primeira vez em
1938. Seus detratores tomaram a obra como uma cópia dos hinos religiosos
egípcios publicados anteriormente numa compilação chamada Os Hinos do Nilo.
Apesar de não ter nenhuma ligação com o nazismo, os
adeptos de Crowley indicavam o Liber Al
como base ideológica para Hitler que, de acordo com alguns historiadores, citou
o nome de Crowley em público pelo menos duas vezes.
Crowley, em função do livro e de seus dons mágicos,
se sentia o messias da Nova Era e acreditava ser o Liber Al um texto fundamental do espiritualismo do século XX.
O Livro das
Mentiras
O subtítulo do livro “ as divagações ou
falsificações de um pensamento de Frater Perdurabo” fazem com que a obra se
pareça com mais uma das brincadeiras macabras de Crowley. Na verdade, o título
tenciona expressar a idéia de que toda a verdade é relativa ou falsa se vista
sob um angulo diferente. São 119 pequenos capítulos e seus comentários, que
levam estranhos títulos como o Sabath da
Cabra e O Ornitorrinco.
O 777
Uma das mais importantes obras de Crowley, o 777 é
um grande dicionário de magia cerimonial, misticismo e simbologia, que compara
diversas tendências religiosas, esotéricas e filosóficas. Nele, Crowley estuda
os símbolos fálicos da Kabala e apresenta tábuas de correspondência entre esse
sistema e elementos de magia cerimonial, bem como as correspondências místicas
entre as religiões.
O Livro de
Toth
Quando, na Golden Dawn, Crowley atingiu o grau de Praticus, foram-lhe confiados os
segredos do Tarô e suas atribuições. Seguindo as instruções dos Manuscritos
Cifrados da ordem hermética, escreveu um amplo ensaio sobre o tema,
relacionando os arcanos do Tarô aos caminhos e sephirot kabalísticos, à
astrologia, aos números e aos elementos. A um conjunto de seus escritos,
Crowley chamou The Equinox. O volume III n.º V é The Book of Thoth, o
Livro de Toth , recentemente editado em português.
O Tarô
A fascinante obra sobre o Tarô e as ciências
ocultas, assinada por Mestre Therion,
um de seus tantos nomes, tem como ilustração um baralho de Tarô composto de 78
cartas que são, originalmente, 78 quadros. Os quadros foram pintados a óleo
pela artista e egiptóloga Frieda Harris sob orientação de Crowley. O trabalho
teve inicio em 1938 e foi finalizado em 1944 e seu resultado foi completamente
diferente da proposta original. Crowley tencionava pintar um baralho
tradicional, seguindo os modelos medievais. Lady Frieda não se sentiu inspirada
para realizar tal trabalho e convenceu Crowley a realizar algo que se
aventurasse a ser mais profundo e sublime. O resultado foi sem dúvida
surpreendente. A dedicação e genialidade de Frieda Harris, que trabalhava
baseada em grosseiros croquis ou descrições de Crowley, fez com que a artista
repetisse inúmeras vezes uma mesma pintura até julgá-la perfeita. Frieda
inseriu ao todo 1200 símbolos nos 78 quadros. O Tarô de Aleister Crowley é uma
das mais belas obras ocultistas que o mundo conheceu, não importa o que se
pense sobre seu autor. Infelizmente, nem Crowley nem Frieda, que morreu em
1962, viveram para ver seu trabalho publicado. Em 1966, Grady McMurtry, que
ajudará Crowley a publicar The Book of
Thoth em 1944, fotografou as pinturas e publicou na forma de baralho.
McMurtry é o atual chefe da loja americana da OTO.
Dos livros escritos por Crowley, 34 podem ser
considerados best-sellers do
ocultismo. Entre eles figuram O Mundo
Desperto, Liber XXX, Ambrosii Magi Hortus Rosarum, Gematria, Goecia e
Magia em Teoria e Prática.
O alemão Hans-Dieter Leuenberger em sua obra Das Ist Esoterik faz uma interessante
advertência àqueles que desejam seguir os ensinamentos de Crowley. Diz ele:
“quem quer viver segundo os textos mágicos de Crowley e praticar seus rituais
pode ter surpresas nada agradáveis, que nem sempre são de natureza espetacular,
como de loucura, suicídio ou combustão espontânea, mas que podem ter
conseqüências profundas no inconsciente. A escola esotérica que se orienta por
Crowley, assemelha-se a uma criança que brinca com uma bomba não deflagrada”.
Evidentemente, questão de opinião!
A Abadia de
Thelema
Se desejas
entregar-te a magia deves começar por construir um oratório segundo certas
formas exatas. A porta deve abrir para o norte, no alto de um terraço coberto
de areia fina de rio. Na extremidade do terraço deve haver uma pequena loggia, onde os espíritos demoníacos poderão se reunir. Abramelin
No outono de 1989, Crowley teve contato com o Livro
da Magia Sagrada de Abramelin. Além de instruções específicas sobre a
localização e formas do oratório ideal, o livro instruía sobre o procedimento a ser adotado para
invocar os espíritos. O aspirante deveria isolar-se do mundo por um período de
dois meses e, ao final, invocar um ser descrito como Sagrado Anjo Guardião.
Após a comunhão com o Anjo, o aspirante deveria invocar os Quatro Grandes
Príncipes do Mundo Demoníaco e os forçarem a jurar obediência. No dia seguinte
deveria invocar e subjugar outros príncipes e espíritos. Tais daemons operariam então um coleção de
talismãs para diversos propósitos.
Crowley interessou-se imediatamente pela operação
mágica e estabeleceu uma data para executá-la - a Páscoa de 1900. Mas teve que
adiar seus propósitos pois, nesse período, alguma coisa ia mal na Ordem da
Aurora Dourada. Seu Mestre, na época Mathers, teria apelado para que o mago o
auxiliasse em Paris, no salvamento da
Ordem. Crowley teria atendido ao pedido e depois dirigido-se ao México, onde
permaneceu em vigília no Templo da Ordem
da Lâmpada da Luz Invisível. De acordo o atual Magister Templi da AA no
Brasil, nesse local Crowley recebeu a
visão do Anjo Guardião e dos Príncipes e, ao retornar a sua casa na Escócia - a
Boleskine House, no Loch Ness - percebeu presenças das forças envolvidas na
operação. Crowley teria completado “a obra no templo de seu próprio corpo”.
A criação do oratório aconteceu anos mais tarde na
Itália quando, ao consultar o IChing, ele foi informado pelo oráculo chinês que
havia chegado a hora.
Em abril de 1920 chega a Cefalu, na Sicília, um
grupo disposto a se estabelecer sob o morro de Santa Bárbara: Aleister Crowley,
suas duas amantes, Leah Faesi e Ninette Fraux e duas crianças, uma delas
Poupée, filha de Crowley e Leah. A missão do grupo: fundar ali um templo
gerador de energia oculta que mais tarde, de acordo com eles, deveria suplantar
o cristianismo. Posteriormente, outros discípulos de Crowley desembarcaram em
Cefalu: a terceira amante, Elizabeth Fox e uma atriz americana, Jane Wolfe,
pela qual Crowley sentia uma selvagem atração não correspondida.
Fundaram ali a Abadia de Thelema, santuário da AA imaginada pelo demônio Babelais e inspirada por Abramelin.
Aparentemente, a rotina da abadia era quase monástica, com seus cantos e
rituais. Mas as aparências enganam. A
regra fundamental da abadia, inscrita em letras invisíveis era “faze o
que desejas: esse é o princípio fundamental da Lei”. Mas essa liberdade era
dada apenas àqueles que haviam atingido a suprema sabedoria e, para atingi-la,
era preciso submeter-se à vontade do mestre.
Muitos, como Norman Mudd que se demitiu de uma
universidade na África do Sul,
trabalharam na construção da grande obra mágica. A casa era - e é ainda
- uma modesta construção térrea com cinco quartos dando para a sala principal.
As paredes da sala principal, o Sanctus Sanctorum, foram pintadas de vermelho.
Nelas Crowley desenhou um círculo mágico com um pentagrama e todas as possíveis
formas do ato sexual. Nessa sala existiam dois tronos: um maior, ao leste, para
o Sábio e o segundo, a oeste, para sua consorte, a Mulher Escarlate. Nesse sala os discípulos foram iniciados nos mais
diversos mistérios. Num deles, a Mulher Escarlate participava do acasalamento
com um bode, que tinha sua cabeça decepada no momento do orgasmo, banhando com
sangue o corpo da mulher. Os acólitos, por sua vez, oravam cinco vezes ao dia
(bem ao estilo Plymouth Brethren), sacrificavam animais, invocavam demônios e
participavam de ritos sexuais.
Todos os homens da abadia deveriam ter suas cabeças
raspadas e as mulheres os cabelos pintados de vermelho ou amarelo. Deveriam as
mulheres usar uma túnica azul e escrever um diário onde anotavam seus
pensamentos e desejos íntimos. Evidentemente Crowley tinha livre acesso às
anotações.
Quando alguma de suas amantes era julgada por
desobediência, Crowley a expunha nua, com os braços em cruz, sobre os rochedos
que davam para o mar. Permanecia ali imóvel e mudal, marcadal a ferro no centro
do peito, abençoando interiormente seu senhor, até que o castigo fosse
suspenso. Uma foto de irmã Cibele (Leila Wadeel), uma das amantes de Crowley e
um dos primeiros membros da AA,
mostra a marca da besta entre os seios. Tal foto está
publicada na obra Seitas Secretas.
Aos visitantes Crowley oferecia uma navalha, para
que cortassem os braços todas as vezes que empregassem a palavra eu. Somente o mestre tinha direito de
empregá-la.
Em 1922 Crowley recebeu mais dois visitantes: Raoul
Loveday, que tornou-se discípulo
devotado do mago e sua esposa, Betty May, uma mulher culta que ficou
impressionada com o que viu. Loveday tinha saúde frágil - teve desenteria e
hepatite, e morreu de colapso logo após
uma cerimônia em que se sacrificava um gato e se bebia o sangue dele. Seguiu-se
então um enorme escândalo, onde cogitava-se a possibilidade de outros
sacrifícios, como o de bebês.
No final do ano de 1922, Crowley e seus seguidores
foram expulsos da Sicília por Mussoline, como mais tarde também seriam expulso
da França.
Em 1947, com problemas no coração e pulmões, viciado
em heroina e abandonado, o grande mago negro, príncipe da alquimia, o homem
mais perverso da criação estava reduzido a miséria. Sua morte, nada gloriosa
comparada à sua vida, deu-se numa pensão ao Sul da Inglaterra.
Para fazer justiça a sua vida e seu caráter, em sua
lápide deveria constar, como inscrição, um Hino a Pã: Eu me enfureço e desonro / Rasgo
e vocifero / Causo eterna devastação pelo mundo / Sob o domínio de Pã.
Mara Barrionuevo para o Jornal O Exotérico – edição de agosto de
2000
Bibiografia:
Seitas Secretas - Mistérios do Desconhecido
outras bibliografias citadas no texto
Bibiografia:
Seitas Secretas - Mistérios do Desconhecido
outras bibliografias citadas no texto
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